AMOR E LIBERDADE - FILHOS

quinta-feira, 29 de maio de 2008



Por: Psic. Alexandra Guerra Castanheira

"A vara da correção dá sabedoria, mas a criança entregue a si mesma envergonha a sua mãe". (Pv. 29.15 - NVI)

"Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) entrevistaram 6417 jovens de 10 a 20 anos para descobrir como anda o consumo de álcool entre eles. Concluíram que 20% dos meninos e 15% das meninas, entre 10 e 12 anos, haviam ingerido álcool nos últimos 30 dias. Entre 13 e 15 anos o percentual aumentou: 43% dos garotos e 40% das meninas tinham consumido bebidas alcoólicas. Quatro em cada dez adolescentes começam a beber antes dos 15 anos."

A primeira pergunta que fiz ao ler essa estatística foi:

- Por quê?

Por que tantas crianças estão se entregando compulsivamente à comida, às drogas, ao álcool, ao sexo?

Será a liberdade excessiva dada pelos pais?

Tanto a super-proteção, como à liberdade em excesso causam grandes prejuízos para o ser humano. E como é fácil cairmos em extremos!

Crianças precisam de amor e liberdade na dosagem certa para que possam crescer com estabilidade mental e emocional.

Fomos ensinados que, se amamos alguém, devemos tentar prendê-lo, protegê-lo de tudo e de todos, como se pudéssemos ser Deus e controlar alguma coisa. Na tentativa de resguardar, dominamos e sufocamos a semente do autogoverno na infância.

"A sociedade estimula nossa dependência psicológica de muitas pessoas a partir dos pais. E a autonomia também começa exatamente dos pais. Por isso, tantos choques na adolescência dos filhos, seres dependentes, ensaiando os primeiros passos na escolha da própria vida e os pais insistindo em mantê-los crianças controladas e escravas dos desejos paternos.

Naquelas famílias onde o valor da autonomia é bastante considerado e onde se sabe da sua importância para o sucesso e felicidade do filho, o movimento no sentido da liberdade é bem visto e não significa confronto com a autoridade de ninguém. Nessas famílias, o espaço de cada pessoa é respeitado, toleram-se as diferenças e há privacidade. Os pais reconhecem que a partir de determinada idade os filhos devem lutar pelos seus interesses e devem criar um mundo social de amizades e atividades fora de casa, não significando com isso, abandono.

Nas famílias autoritárias, ao contrário, o valor da liberdade é substituído pela proteção, pelo apego (ciúme) e pela obediência. Os pais tomam como ofensa pessoal o filho desejar ir a uma festa com os colegas ao invés de ficar numa reunião familiar. Todos são obrigados a partilhar o tempo todo e toda privacidade é malvista." (Antonio Roberto - parte do artigo publicado no Jornal Estado de Minas, em 17/08/2003).

Alguns pensam que dar liberdade é deixar a criança entregue a si mesma. "Deixe o menino fazer o que ele quer!", "Não discipline, não corrija; a criança pode ficar traumatizada!" Mas a Bíblia nos manda ensinar, corrigir. "Quem se nega a castigar seu filho não o ama; quem o ama não hesita em discipliná-lo." (Pv. 13.24 - NVI. Veja também Provérbio 10.13; 22.15;23.14;26.3;29.15) Isso quer dizer colocar limites, pois só assim poderemos ser realmente livres.

Reconhecer nossos limites nos possibilita viver a liberdade em relação ao outro.

Corrigir não é espancar. Esse é um dos abusos que as crianças sofrem. O mau uso do poder, como todo excesso, só traz prejuízos. Quando isso acontece, a correção é feita sem amor, ou na hora errada, para descarregar a raiva. Isso não é disciplinar.

Disciplinar é "conversar sobre; perder o direito de...". É fundamental que haja compreensão por parte da criança, da razão da disciplina, para que ela possa mudar seu comportamento. O medo, as críticas, a coerção geram mais problemas. Muitas vezes mudamos nossa atitude devido ao medo e à culpa tão usados na educação, infelizmente. No entanto, não mudamos nossa mente, nossos valores. Então, aquelas antigas atitudes tendem a voltar, nos deixando frustrados e tristes.

A "psicologia de fundo de quintal", como é conhecida pelos mineiros, é um exemplo do uso do medo e da culpa na tentativa de educar. Quem nunca ouviu a mãe dizer: Menino, se você pular da janela vai virar ladrão", "Se você falar mentiras seu nariz vai crescer". "O bicho-papão vai te pegar". Seria muito mais eficaz explicar à criança a consequência de tais atos. Se uma boa conversa não resolver, a própria criança descobrirá os efeitos de suas ações, à medida que for crescendo. Em último caso, usamos a vara, com amor, calma, longe de expectadores e no lugar apropriado - no "bumbum". Detalhe: se não doer mais naquele que está corrigindo,é porque há algo de errado. Pois, de acordo com a Bíblia, toda disciplina, no momento, dói em ambas as partes.

"Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados." (Hb 12.11 - NVI).

Equilibrar amor e liberdade é fundamental. Mas como conseguir isso? Tenha ânimo e esforce - se, seja forte e corajoso, porém com a direção do Senhor. O esforço humano se dissipa sem a orientação de Deus. "Senão for o Senhor o construtor da casa, será inútil trabalhar na construção. Se não é o Senhor que vigia a cidade, será inútil a sentinela montar guarda." (Sl. 127.1 - NVI).

Filhos são como flechas. Flecha talvez não seja uma figura de linguagem atualizada, mas todos nós sabemos do que se trata. Provavelmente já vimos uma em algum filme, e sabemos bem para que serve: Para ser lançada em direção ao alvo. "Os filhos são heranças do Senhor, uma recompensa que ele dá. Como flechas nas mãos do guerreiro são os filhos nascidos na juventude. Como é feliz o homem que tem a sua aljava cheia deles!" (Sl. 127.3-5 - NVI).

Nossos filhos não são propriedade nossa, não nos pertencem! São da vida! Deus os colocou em nossa aljava para que os preparemos para serem lançados em direção ao alvo. Este é o objetivo: lançá-los... e não, prendê-los. Pois, para que serve uma flecha, senão para ser lançada?Crianças são como sementes, que devem ser lançadas ao solo para produzir. A semente, se guardada, não germina. A semente lançada germina e reproduz: a dez, cinqüenta e a cem por um; dependendo do solo.

Crianças são flechas. Você é o guerreiro. Prepare suas flechas, com amor e liberdade, para serem lançadas ao alvo.

************
Alexandra Guerra Castanheira
Formada em teologia pelo ICN e graduada em pedagogia pela UFMG. Autora do livro "Infância: O Melhor Tempo Para Semear" da Editora Betânia. Trabalha atualmente na gestão do Colégio Cristão VER, escola da Missão V.E.R. Ministra palestras e desde 1996 trabalha com a formação de pais, líderes e educadores no Brasil e nos USA. É pastora na Comunidade Batista Semeando.